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Tratamento inadequado de retinopatia diabética no SUS expõe milhões ao risco de cegueira, alerta entidade

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A presidente da organização Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo, fez um alerta contundente sobre o cenário do tratamento da retinopatia diabética no Brasil. A doença, uma das principais complicações do diabetes, pode levar à cegueira se não for tratada corretamente — e é exatamente essa falha no cuidado que preocupa especialistas e associações.

De acordo com dados do DataSUS obtidos via Lei de Acesso à Informação, os protocolos do Ministério da Saúde, que recomendam pelo menos oito aplicações do medicamento Anti-VEGF no primeiro ano após o diagnóstico, estão longe de ser cumpridos na prática. Vanessa denuncia um “subtratamento generalizado” e cita filas de espera que chegam a ultrapassar dois anos para atendimento com oftalmologistas na rede pública.

“O que temos visto é a promessa de tratamento sem o devido acompanhamento. Isso resulta em desperdício de dinheiro público e, o mais grave, em agravamento da saúde da população”, afirma. Ela aponta também o uso inadequado de medicamentos e a falta de aplicação correta dos protocolos clínicos por parte dos estados, apesar da disponibilidade de insumos fornecidos pelo Governo Federal.

A entidade, que reúne 25 associações e dois institutos integrados à Federação de Associações e Institutos de Diabete e Obesidade, lançou recentemente a nova edição do Radar Nacional do Diabetes. A pesquisa ouviu 1.843 pessoas em todo o país e revela um panorama preocupante: 30% dos entrevistados apresentaram descontrole glicêmico; 12% relataram retinopatia diabética; 25% enfrentam doenças cardiovasculares, entre outras complicações que poderiam ser evitadas com diagnóstico precoce e acompanhamento contínuo.

“Falta capacitação na atenção básica e o sistema de saúde não dialoga entre os seus diferentes níveis. Isso cria um abismo entre o diagnóstico e o início do tratamento”, explica Vanessa, que convive com o diabetes há 24 anos. Para ela, é urgente a implementação de políticas públicas mais eficazes, que garantam acesso a especialistas, qualificação dos profissionais de saúde e monitoramento da execução dos protocolos clínicos.

Apesar dos desafios, a presidente da Vozes do Advocacy destaca avanços conquistados nos últimos anos: a incorporação da insulina análoga de ação prolongada ao SUS, o Dia D de vacinação para pessoas com diabetes, a capacitação de mais de 2 mil profissionais da saúde e a mobilização de parlamentares e instituições públicas por meio de ações de conscientização.

No entanto, segundo ela, ainda há um longo caminho a percorrer. “É essencial que os municípios criem programas de capacitação em diabetes, que o Governo Federal garanta o abastecimento de medicamentos e insumos e que haja uma união entre poder público e sociedade civil na formação de profissionais. A informação é uma das armas mais poderosas que temos para mudar esse cenário”, conclui.

 

Por: Redação Semear Notícias.

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