0
O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é uma data que ressignifica a luta histórica das mulheres por direitos e igualdade. Neste contexto, homenageamos a trajetória de Laélia Alcântara, a primeira senadora negra do Brasil, cujas contribuições políticas e sociais marcaram profundamente a história do Brasil e do Acre.
Origens e formação
Laélia Contreiras Agra de Alcântara nasceu em 7 de julho de 1923, na cidade de Salvador, Bahia. Filha de uma família de classe média, ela se destacou desde cedo pelo seu empenho nos estudos. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1949, um período em que as mulheres, especialmente as negras, ainda enfrentavam grandes desafios no acesso à educação e ao mercado de trabalho.
Após a graduação, Laélia mudou-se para o Acre, um território federal na época, que possuía uma escassez crítica de médicos — havia apenas seis profissionais atuando na região. Ela foi a única mulher entre os médicos que estavam no estado, o que destacou ainda mais a sua coragem e determinação em um campo profissional predominantemente masculino. Lá, Laélia se especializou em obstetrícia e pediatria e começou a lecionar puericultura na Escola Normal de Rio Branco, contribuindo diretamente para a formação de profissionais locais e o avanço da saúde pública na região.
Laélia de Alcântara ao lado do presidente do Senado, Jarbas Passarinho/Fonte: Agência Senado
Carreira política
Laélia Alcântara iniciou sua trajetória política no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sendo eleita suplente de deputado federal em 1962. Em 1965, com a instauração do bipartidarismo no Brasil, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que representava a oposição ao regime militar. Sua ascensão no MDB foi marcada pelo foco em questões sociais, principalmente relacionadas à saúde pública e à educação.
Em 1974, foi eleita suplente do senador Adalberto Sena, e após o afastamento e posterior falecimento do titular em 1981, Laélia assumiu seu lugar, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira no Senado Federal. Sua eleição não apenas representou uma conquista pessoal, mas também um marco na política brasileira, que até aquele momento era dominada por uma minoria de homens brancos.
Em 8 de março de 1982, no Dia Internacional da Mulher, Laélia discursou no Senado. Fonte: Agência Senado
Atuação no Senado
Durante seu mandato de 1981 a 1983, Laélia Alcântara se destacou por sua atuação em pautas sociais e de inclusão. Foi uma das principais defensoras de políticas públicas voltadas à saúde da mulher e da criança, além de lutar pela ampliação da participação feminina na política e por ações que visavam reduzir a desigualdade racial e social no país.
Como médica, sua visão era ampla, indo além do atendimento clínico, e passou a se preocupar também com a formação de políticas públicas que melhorassem as condições de saúde da população mais carente. Ela usou sua voz no Senado para argumentar a favor de melhores condições de vida para os grupos marginalizados, que muitas vezes não eram ouvidos por seus pares.
Radicada no Acre desde o início da década de 1950, Laélia nasceu em Salvador e se formou em Medicina no Estado do Rio/Foto: Reprodução
Contribuições e legado
Laélia Alcântara foi uma das poucas mulheres a alcançar um cargo de destaque na política nacional durante o regime militar. Sua presença no Senado não apenas quebrou barreiras de gênero e raça, mas também representou a crescente importância das mulheres negras na política brasileira. Ela tornou-se uma referência para as futuras gerações de mulheres e negras que aspiravam ocupar posições de poder e decisão.
Além de seu mandato no Senado, Laélia se manteve atuante em questões sociais após o fim de sua atuação política. Foi uma defensora incansável da saúde pública e da inclusão social, trabalhando em diversas frentes para melhorar as condições de vida das populações mais vulneráveis.
Laélia Alcântara faleceu em 8 de novembro de 2006, mas seu legado permanece forte na memória daqueles que acreditam em um Brasil mais justo e igualitário.
Com informações de ContilNET.