A recente declaração de Oswaldo de Oliveira, lamentando estar fora do futebol e associando sua ausência a uma “moda” de técnicos estrangeiros no Brasil, escancara um problema crônico no cenário dos treinadores nacionais: a falta de autocrítica e a resistência à evolução.
Com todo respeito à história de Oswaldo — campeão mundial com o Corinthians em 2000 e multicampeão por onde passou —, é preciso dizer o óbvio: ele está ultrapassado. Não reconheceu a necessidade de se reinventar, de estudar, de absorver novas ideias e tendências do futebol moderno. E isso não é uma questão de idade, mas de mentalidade.

Não se trata de “moda” quando um clube contrata um técnico estrangeiro. Trata-se de resultado. De conteúdo. De repertório. O que Jorge Jesus fez no Flamengo em 2019 foi uma aula de como se aplicar uma filosofia europeia de jogo com intensidade, variações táticas e, sobretudo, leitura de elenco. Ele não apenas venceu, ele humilhou os adversários no Brasil e na América do Sul, revelando um abismo de qualidade entre ele e a maioria dos técnicos brasileiros da época.
O mesmo pode ser dito sobre o Botafogo, que ergueu as taças do Brasileirão e da Libertadores sob o comando de um treinador português. Ou do Palmeiras, onde o também português Abel Ferreira não apenas ganhou tudo — de Copa do Brasil a duas Libertadores —, como criou um modelo sólido, competitivo e moderno, respaldado por estudos, gestão de grupo e alto nível de preparação.
A única exceção recente a essa regra é Filipe Luís, atual técnico do Flamengo. E, curiosamente (ou nem tanto), sua formação foi toda europeia. Com uma carreira construída em clubes como Atlético de Madrid e Chelsea, Filipe retornou ao Brasil com uma mentalidade tática moldada pelos melhores da Europa. Seu sucesso precoce à beira do campo não é coincidência: é fruto de conhecimento e vivência no mais alto nível.

Enquanto isso, muitos treinadores brasileiros seguem vivendo de passado, apegados a títulos conquistados há décadas, com discursos repetitivos e pouco compromisso com o estudo. Em vez de buscar cursos, reciclagem e atualização, preferem rotular o sucesso estrangeiro como “modismo”.
Não é modismo. É meritocracia. E enquanto não houver autocrítica, o futebol brasileiro seguirá buscando fora o que deixou de produzir dentro.
Marcelo Mesquita/ Comentarista esportivo.