O Eco das Vozes Silenciosas

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No dia 8 de março de 1917, uma multidão de mulheres russas uniu-se para reivindicar melhores condições de trabalho e qualidade de vida, diante das grandes dificuldades decorrentes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), além de protestar contra as ações do czar Nicolau II. “Pão e Paz” foi o lema dessas mulheres, que originou o Dia Internacional da Mulher. A partir dessa data, outras lutas ecoaram pelo mundo, permitindo que vozes silenciosas se levantassem na busca por direitos, como a redução da carga horária, a melhoria das condições de trabalho, o aumento dos salários e, principalmente, o direito ao voto.

Durante os anos que antecederam o 8 de março de 1917, as mulheres buscavam formas de serem ouvidas, respeitadas e valorizadas. Em 1908, ocorreu uma greve de mulheres que trabalhavam na fábrica de confecção de camisas Triangle Shirtwaist Company, localizada em Nova York. Elas reivindicavam melhores condições de trabalho para reduzir os riscos que suas vidas corriam em ambientes extremamente insalubres. Três anos depois, essa mesma fábrica sofreu um incêndio que resultou na morte de 146 mulheres, muitas delas com menos de 14 anos.

Dentre os muitos movimentos femininos, incluindo o Brasil, surgiu a primeira onda do feminismo: o movimento sufragista. Mulheres como Susan B. Anthony, nos Estados Unidos; Emmeline Pankhurst, no Reino Unido; e Bertha Lutz, Celina Guimarães Viana e Nísia Floresta, no Brasil, lideraram campanhas incansáveis pelo direito ao voto e à participação das mulheres na política. Em 1975, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu oficialmente o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, consolidando a data como um símbolo global da luta pelos direitos femininos.

 

Embora muitos avanços tenham sido feitos, ainda existem grandes desafios a serem superados. Questões de reconhecimento e protagonismo persistem em silêncios, sendo frequentemente apagadas da história. Essas vozes podem promover mudanças significativas e transformar vidas, mas muitas vezes só são reconhecidas postumamente.

Segundo o site Claudiaonline, no pôster do dia 8 de março de 2025, várias mulheres foram completamente esquecidas: Mirtthes Bernardes, desenhista e criadora do piso paulistano em 1960, faleceu em 2020 sem obter retorno financeiro por sua contribuição.

Rosalind Franklin, considerada uma das cientistas mais injustiçadas da história, foi responsável pela célebre “foto 51”, que registrou a estrutura do DNA. Ela foi reconhecida apenas após sua morte, perdendo o Prêmio Nobel que foi concedido a três homens. Ada Lovelace, a primeira programadora do mundo, teve seu trabalho reconhecido 100 anos após sua morte no século 19, quando escreveu o projeto do primeiro algoritmo de computador.

Outro exemplo significativo é o de Esperança Garcia, uma mulher negra escravizada no Brasil, reconhecida como a primeira mulher advogada do país. Nascida em uma fazenda dos jesuítas, foi levada como escrava aos 9 anos e, aos 16, teve seu primeiro filho. Em 6 de setembro de 1770, enviou uma petição ao presidente da Capitania de São José do Piauí, denunciando os maus-tratos que ela e outros escravizados sofreram. Sua carta é considerada a primeira petição escrita por uma mulher na história do Brasil, marcando seu papel como precursora da advocacia e da literatura afro-brasileira. O dia 6 de setembro é celebrado como o Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí.

Esperança fugiu, casou-se e teve sete filhos. Em 2017, o Memorial Zumbi dos Palmares em Teresina foi renomeado em sua homenagem. A escola de samba Mangueira e a Em Cima da Hora a homenagearam em seus enredos de Carnaval. Desde 2019, tramita no

Congresso um projeto para inscrever seu nome no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Em 2022, ela foi oficialmente reconhecida como a primeira advogada brasileira pela OAB.

Outras vozes silenciadas continuam a ressoar por meio de lutas incansáveis por reconhecimento e direitos que são frequentemente violados. As mulheres ainda enfrentam desafios em ocupar espaços que a sociedade patriarcal insiste em negar. Entre os maiores obstáculos, destacam-se a luta por igualdade em posições de poder e salários justos. De acordo com um levantamento realizado em janeiro e fevereiro de 2025, que analisou a participação das mulheres na gestão municipal, cidades como Porto Acre, Assis Brasil, Brasileia e Bujari apresentaram um percentual significativo de mulheres à frente das secretarias, fruto das novas gestões formadas após as eleições de 2022.

 

O Acre se destaca pela elevação da participação feminina. Em todas as secretarias de Estado, a maior força de trabalho é composta por mulheres, especialmente nas áreas de Educação e Saúde, que apresentam percentuais acima de 60% em cargos de liderança e efetivos.

No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, é importante destacar três momentos históricos no Estado do Acre: o Departamento de Estradas de Rodagem do Acre (DERACRE), que, após 60 anos de existência, teve sua primeira mulher à frente da presidência, Orlanilda Ximenes Muniz, conhecida carinhosamente como Sula. Ela desempenhou diversos papéis ao longo de sua carreira e, historicamente, entregou um colete rosa a outra mulher que também fez história, Mailza Assis, a primeira mulher a dar à luz enquanto exercia o mandato de Senadora da República, em 2019. Esse momento foi registrado pela colunista Claudia Meireles em 12 de julho de 2020, marcando a primeira vez em 194 anos que uma senadora deu à luz durante o mandato.

Sula e Mailza, homenageadas com o colete rosa.

Outro momento significativo foi a posse da coronel Marta Renata, que se tornou a primeira mulher a comandar a Polícia Militar do Acre (PM-AC) em mais de um século de existência da instituição, fundada em 25 de maio de 1916.

Segundo uma reportagem do portal Amazônia, o Acre está entre os 10 estados com maior percentual de mulheres em cargos de liderança. Na Região Norte, ocupa a segunda posição, atrás apenas do Amapá, que possui 41% de gestoras. Um levantamento feito por um comitê gestor formado pelos institutos Aleias, Alziras, Foz e Travessia Políticas Públicas, com dados coletados entre dezembro de 2023 e março de 2024, coloca o Acre em nono lugar no ranking de mulheres em cargos de liderança, conforme divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) em 2 de janeiro.

Em outras palavras, a linha do tempo revela que muitas vozes ainda permanecem no silêncio, submersas em noites escuras, salas apertadas e lugares que jamais serão ouvidos. As políticas públicas precisam ser educacionalmente revestidas desde a primeira infância para prevenir e promover mudanças culturais. É necessário criar espaços acolhedores e de proteção para as vítimas de diversas violências e, acima de tudo, essas políticas devem ser uma cura para as mentes que perpetuam a violência. O público que gera sofrimento e dor precisa ser alcançado.

 

Veja na galeria de fotos, algumas mulheres exemplares do estado do Acre.

 

Colunista/ Francinete Barros.

Galeria de Fotos

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