Um levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica revelou que apenas 6,9% dos rios do bioma monitorados pela entidade apresentam água de boa qualidade. O relatório O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica mostra que a maioria dos pontos analisados (75%) tem qualidade regular, enquanto 16,2% registram qualidade ruim e 1,9% são classificados como péssimos. O estudo foi financiado pela Ypê, marca de produtos de limpeza e higiene.
Para a elaboração do relatório, a fundação utilizou o Índice de Qualidade da Água (IQA) e contou com o apoio de 2,7 mil voluntários do programa Observando os Rios, em atividade desde 2015. As coletas ocorreram mensalmente entre janeiro e dezembro de 2022, totalizando 990 análises realizadas em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água. O levantamento abrangeu 74 municípios distribuídos em 16 estados da Mata Atlântica.
A pandemia de covid-19 impactou a coleta de dados em 2021, resultando em um número menor de análises, com 106 pontos examinados. Apesar disso, ao comparar os resultados, foi identificado um leve indicativo de melhora na qualidade da água: os pontos classificados como bons passaram de sete para oito; os regulares, de 75 para 80; enquanto os ruins caíram de 21 para 15. No entanto, três locais permaneceram com qualidade péssima, todos situados no Rio Pinheiros, em São Paulo.
De acordo com Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, os números refletem os impactos da ação humana sobre os recursos hídricos. “Para garantir água de boa qualidade, seria essencial que nascentes, mananciais e rios de classes 1 e 2 estivessem protegidos da poluição. Porém, as análises mostram a fragilidade dos nossos rios, principalmente em áreas próximas a grandes centros urbanos e regiões com intensa atividade agrícola e industrial”, alerta.
O diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica, Sérgio Lucena, classificou os dados como “chocantes, mas não surpreendentes”. Segundo ele, a qualidade da água tem se mantido estagnada ao longo dos anos, sem avanços significativos. “Isso precisa mudar. O cenário atual é resultado não apenas do crescimento populacional desordenado, mas também do uso inadequado da terra e da falta de saneamento básico, especialmente nas áreas urbanas”, enfatiza.