O Acre aparece entre os três piores estados brasileiros em cobertura de atendimento pediátrico, segundo o estudo Demografia Médica no Brasil 2025, divulgado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O levantamento aponta que o estado possui apenas 33,35 pediatras para cada 100 mil habitantes com até 19 anos, número quase quatro vezes menor do que o registrado em São Paulo (136,08) ou no Rio de Janeiro (147,85).
A situação crítica coloca o Acre ao lado de outras unidades da federação da Região Norte e Nordeste, como Maranhão (27,98), Pará (28,74), Amazonas (37,48) e Amapá (38), todas com cobertura considerada insuficiente para atender à demanda da população infantojuvenil. O contraste é ainda maior em relação ao Distrito Federal, que lidera o ranking nacional com 258,35 pediatras por 100 mil jovens.
Desigualdade regional e concentração no setor privado
O cenário revela um problema estrutural na distribuição dos médicos especialistas no país. De acordo com o estudo, mais de 55% dos pediatras brasileiros estão concentrados na Região Sudeste, enquanto apenas 5,9% atuam no Norte. A concentração também se dá no setor privado: grande parte dos pediatras trabalha fora do Sistema Único de Saúde (SUS), restringindo o acesso da população mais vulnerável ao atendimento médico especializado.
Outro fator agravante é a baixa presença de pediatras nas equipes de Atenção Primária à Saúde (APS), o que compromete a continuidade do cuidado com as crianças e adolescentes, especialmente em regiões remotas. A falta de programas de residência médica no estado também dificulta a fixação de profissionais formados, que tendem a permanecer nas regiões onde fizeram especialização.
Telemedicina: solução parcial
A expansão da telemedicina tem sido debatida como alternativa para mitigar a escassez de médicos, especialmente em áreas isoladas da Região Norte. Embora a tecnologia permita consultas a distância e acompanhamento remoto, especialistas alertam que a presença física do pediatra continua sendo essencial para diagnósticos precisos e o tratamento adequado de crianças, principalmente em casos de doenças mais complexas.
Panorama nacional
O Brasil deve fechar 2025 com aproximadamente 635,7 mil médicos registrados, segundo estimativas da Associação Médica Brasileira (AMB), resultando em uma média de 2,98 médicos por mil habitantes. No entanto, essa distribuição está longe de ser homogênea. No Acre, a taxa é inferior à média nacional, e a presença de especialistas como pediatras é ainda mais restrita.
A pediatria continua sendo uma das especialidades com maior número de profissionais no Brasil. No entanto, sete especialidades – incluindo clínica médica e pediatria – concentram mais de 50% dos especialistas registrados, revelando a carência de diversidade nas áreas de atuação médica em diversas regiões.
Desafios e possíveis soluções
Diante da escassez, o estudo recomenda a ampliação de vagas de residência médica no interior do país, com o objetivo de fixar profissionais nas regiões de maior carência. Além disso, defende a inclusão de pediatras nas equipes da APS, como forma de garantir o acompanhamento regular das crianças desde os primeiros anos de vida.
Outras propostas incluem incentivos à interiorização da medicina, como bolsas de estudo, remuneração diferenciada e investimentos em infraestrutura de saúde.
Enquanto isso, milhares de famílias acreanas enfrentam longas filas de espera, deslocamentos para outros municípios e a incerteza de conseguir atendimento especializado para seus filhos. A situação escancara as desigualdades do sistema de saúde brasileiro e a urgência de políticas públicas efetivas para garantir o direito à saúde de crianças e adolescentes, onde quer que vivam.