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Cafeína pode fazer bactérias resistirem a antibióticos, sugere estudo

Micrografia eletrônica de varredura de Escherichia coli cultivada em cultura e aderida a uma lamínula — Foto: Wikimedia Commons
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Os cientistas sabem há décadas que as bactérias podem se proteger liberando substâncias nocivas por meio de proteínas transportadoras especiais em suas camadas externas. Essa capacidade as ajuda a resistir aos efeitos de medicamentos que, de outra forma, as matariam.

No entanto, não estava claro como esses microrganismos alteram a atividade dos genes por trás dessas proteínas transportadoras em resposta às moléculas que encontram. Assim, de forma a tentar compreender melhor esse processo, uma equipe da Universidade de Tübingen, na Alemanha, resolveu testar como a Escherichia coli respondia a 94 compostos químicos diferentes.

A pesquisa mostrou que muitos produtos diferentes podem desencadear alterações em genes relacionados ao transporte bacteriano e, portanto, potencialmente afetar sua resposta aos antibióticos. A cafeína apareceu entre essas substâncias, e foi a que mais chamou a atenção dos pesquisadores.

Influência da cafeína
Os resultados do estudo foram descritos em detalhes em um artigo científico, publicado no dia 22 de julho na revista PLOS Biology. Nele, é indicado que a cafeína levou à redução na produção de uma proteína de transporte chamada OmpF, que ajuda a levar antibióticos comuns (como ciprofloxacino e amoxicilina) às membranas ou vísceras das células bacterianas.

Ainda não está claro como esse efeito pode ocorrer em humanos. Contudo, os especialistas acreditam que, com menos dessas proteínas OmpF disponíveis, os antibióticos podem não conseguir acessar seus alvos dentro das células com tanta facilidade. Teoricamente, isso os tornaria menos eficazes no combate às infecções patológicas.

Para além da cafeína, o herbicida paraquate, certas classes de antibióticos, como tetraciclinas e macrolídeos, medicamentos que bloqueiam o ácido fólico, usados para tratar alguns tipos de câncer e doenças inflamatórias, e salicilatos, uma ampla classe de produtos que inclui a aspirina, também causaram efeitos em pelo menos um dos sete genes observados. No total, 28 das 94 substâncias testadas levaram a alterações nas atividades de transporte dentro da E. coli.

Um terço das alterações genéticas induzidas por produtos químicos envolveu a proteína de ligação à origem direita (Rob, na abreviação), que ativa ou desativa genes ao se ligar a sequências específicas de DNA. As descobertas sugerem que a Rob desempenha um papel mais importante na adaptação da E. coli ao seu ambiente do que se pensava anteriormente.

Possíveis implicações da pesquisa
Os pesquisadores descobriram que a capacidade da cafeína de interferir na ação dos antibióticos também se aplicava a uma cepa de E. coli coletada de um paciente real com infecção do trato urinário. Este experimento de laboratório sugere que o efeito da cafeína sobre as bactérias pode ter implicações importantes para a saúde humana – por mais que isso precise ser confirmado em pesquisas futuras.

Projetos futuros também podem analisar micróbios além da E. coli. A equipe suspeita que suas descobertas possivelmente tenham implicações na forma como outras bactérias alteram seus transportadores ao longo do tempo. Mas, vale destacar que, neste momento, ainda parece altamente improvável que o consumo de cafeína resulte em uma infecção difícil de tratar.

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