Por Marcelo Mesquita, 07/05/2025
Tivemos ontem mais um capítulo dramático da eterna rivalidade entre Barcelona e Internazionale de Milão, em confronto que beirou o surreal no San Siro. O time italiano construiu uma vantagem confortável no primeiro tempo, impondo sua força tática e domínio territorial diante de mais de 60 mil torcedores apaixonados.
Nos primeiros 45 minutos, o Barça demonstrou desorientação tática. Tanto Lamine Yamal quanto Raphinha, homens de criação e desequilíbrio, foram anulados por uma marcação asfixiante da Inter. O cenário de 2 a 0 para os donos da casa parecia definitivo para quem assistia ao espetáculo.
Mas o futebol nos presenteia com reviravoltas quando menos esperamos.
O segundo tempo revelou um Barcelona bem diferente do primeiro tempo, com Lamine Yamal assumindo protagonismo impressionante. O jovem de apenas 17 anos parecia flutuar em campo, conduzindo a orquestra catalã com uma maturidade técnica desproporcional à sua idade. Raphinha, igualmente inspirado, encontrou espaços e criou oportunidades que antes pareciam inexistentes.
Em apenas 20 minutos, o impossível começou a tomar forma: 2 a 2 no placar. E não pararam por aí. O Barcelona, dominante e envolvente, chegou à virada com gol de Raphinha, silenciando momentaneamente o fervoroso público italiano. Era a confirmação do poderio técnico superior do time espanhol, que já havia buscado resultado adverso no jogo de ida, quando empatou em 3 a 3 no Camp Nou.
Entretanto, o futebol não se joga apenas com qualidade técnica. A experiência, essa velha senhora que nossos antigos craques tanto valorizavam, fez falta em momento crucial.
Restando apenas quatro minutos para o apito final, Lamine Yamal protagonizou o episódio que expôs sua genialidade, mas também sua juventude. Ao receber a bola pela direita, o camisa 19 optou pela jogada individual em vez da administração do resultado. Com três companheiros próximos, preferiu o chute que carimbou a trave e devolveu a bola aos italianos, que não perdoaram no contra-ataque fulminante.
Foi o típico erro que os velhos boleiros brasileiros chamariam de “falta de malícia”. Pelé, Didi, Zico e tantos outros mestres da nossa escola sabiam reconhecer o momento de “colocar a bola debaixo do braço”, cadenciar o jogo, trocar passes laterais e esfriar a partida. Essa “ciência do tempo” no futebol é tão importante quanto o domínio técnico.
O lance me recordou imediatamente da eliminação da seleção brasileira para a Croácia na última Copa do Mundo. Naquela ocasião, também num momento decisivo, optamos pelo ataque desenfreado quando a administração da posse seria mais prudente. As câmeras captaram Neymar, perplexo, questionando a escolha tática dos companheiros.
Tivesse Lamine explorado sua notável técnica para manter a posse, envolvendo os adversários em toques curtos com Raphinha e companheiros, provavelmente estaríamos celebrando uma virada histórica do Barcelona. Em vez disso, a falta de maturidade levou o confronto à prorrogação, onde a Inter, inferior tecnicamente mas abundante em força de vontade, encontrou o gol da classificação após falhas individuais da defesa catalã.
O futebol, em sua essência pedagógica, oferece essas lições dolorosas mas necessárias. Para o Barcelona, resta agora concentrar esforços no campeonato espanhol, enquanto para o jovem Lamine Yamal, fica a experiência que certamente o tornará ainda mais completo no futuro.
Como dizia o saudoso Telê Santana: “No futebol, a técnica sem inteligência é como um carro potente sem direção.” O talento inegável do Barcelona precisará ser complementado pela sabedoria que só os tropeços ensinam.
Colunista/ Marcelo Mesquita
Analista Esportivo